segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A distribuição da água segundo as regiões brasileiras


Foi numa pequena área florestal, uma das últimas nos arredores da cidade de São Paulo, que o consultor Dick Schoenmaker descobriu como a crise mundial de água afetava sua vida. Na ocasião, ele administrava o Centro Artemísia, um espaço dedicado a cursos e terapias alternativas. Há na propriedade um trecho de mata preservada, com barulho de pássaros, insetos e até um ou outro macaco bugio, além do zunzunzum constante da cidade. Um amigo dele, que trabalha na Sabesp, a companhia de abastecimento paulista, mostrou-lhe fotos aéreas da região. Schoenmaker diz que se recorda até hoje das imagens. As fotos exibiam uma das principais represas de São Paulo, de onde saía a água que ele bebia, cercada por favelas e casas. Em apenas alguns trechos das margens da represa ainda havia mata. “Foi aí que eu entendi”, diz. Vendo as fotos dos mananciais espremidos no meio da mancha urbana, ficava evidente a importância de preservar as últimas nascentes. “Se não houver mais floresta, de onde vai brotar a água que alimenta a represa?”
A preocupação de Schoenmaker reflete um problema global. Segundo as projeções mais recentes da ONU, no ritmo de uso e do crescimento populacional, nos próximos 30 anos, a quantidade de água disponível por pessoa estará reduzida a 20% do que temos hoje. Cerca de 480 milhões de pessoas são hoje alimentadas com grãos produzidos com extração excessiva dos aqüíferos, segundo a pesquisadora americana Sandra Postel, diretora da ONG Projeto de Políticas Globais para Água e membro do Instituto Worldwatch. “Se decidíssemos, de um dia para o outro, explorar os lençóis freáticos de forma sustentável, a colheita mundial de grãos cairia 8%”, diz ela.
O mundo está descobrindo que a escassez de água não é uma questão exclusiva de quem mora em regiões desérticas. Guerras por fontes de energia – como o petróleo – já se tornaram corriqueiras. Neste século, a água está se tornando a questão central por trás dos grandes conflitos no planeta. E isso, embora soe exótico para a maioria dos brasileiros, deveria nos preocupar também. “No Brasil, os conflitos entre usuários de diferentes recursos hídricos estão aumentando”, afirma um novo estudo sobre a crise da água, divulgado dias atrás pela ONU, voltado especificamente para os países da Bacia do Rio da Prata (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia).
A China está pagando pelo descuido ambiental. Cerca de 70% dos rios estão poluídos e 320 milhões de pessoas bebem água contaminada
O Brasil é um país privilegiado num planeta sedento. Tem cerca de 14% de toda a água doce que circula pela superfície da Terra. Mas a distribuição dessa abundância é desigual. Cerca de 80% da água disponível está na Bacia Amazônica, daí a preocupação dos especialistas da ONU com a Bacia do Prata. A maior parte da população – e da atividade econômica – do país está em grandes centros urbanos dessa bacia, onde a oferta de líquido potável é cada vez mais escassa. A maior cidade do país, São Paulo, está perto do limite. O volume de água de rios e represas disponível hoje é praticamente igual à demanda da população. A metrópole, de certa forma, já importa água. As represas da região metropolitana, abastecidas por nascentes como a do Centro Artemísia, só dão conta de metade do consumo da cidade. O resto é bombeado da Bacia dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, cujas águas naturalmente correriam pelo interior do Estado, ao largo da cidade.

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